Maria Madalena, de madrugada, viu o túmulo vazio
Dom Anuar Battisti
Arcebispo de Maringá (PR)
Arcebispo de Maringá (PR)
O evangelista João começa a narrativa do
túmulo vazio na madrugada do primeiro dia da semana, dizendo: “No
primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus bem de
madrugada, quando ainda estava escuro, e viu que a pedra tinha sido
retirada do túmulo. Correu então e foi ter com Simão Pedro e com o
discípulo amado e disse-lhes: Levaram o Senhor do túmulo e não sabemos
onde o puseram” (Jo.20,1-2).
Naquela madrugada Maria Madalena fez e
experiência do vazio. Nem mesmo o cadáver do Senhor Jesus estava ali.
Nada restava para fazer o luto. Como é doloroso a morte de um ente
querido quando seu corpo desapareceu, onde não existe túmulo para ir em
homenagem. Quantas Madalenas, quantos Pedros e Joãos ainda hoje vivem a
mesma experiência.
Aquele coração de mulher, transpassado
pela dor, nunca imaginaria que se tratava de ressurreição. Era o
primeiro dia da semana, um novo dia, um novo tempo, uma nova vida
começava a existir fora do túmulo.
O Homem novo iniciava a sua existência
constatado por uma mulher que vai sozinha, na madrugada, no escuro. Foi
ela que fez Pedro e João correrem para testemunhar que o túmulo estava
vazio e os lençóis dobrados. Dois sinais apenas: o túmulo e os lençóis.
Caminho de perda e de silêncio, nenhuma explicação, só o tempo vai dar
razões para continuar vivendo.
A comunidade começa a acreditar na
notícia depois do testemunho, da mulher e dos discípulos. Tudo começa no
escuro da madrugada, do nascer de um novo dia. No caminho da vida, as
noites escuras podem oferecer um novo caminho. As trevas não são só
causa de domínio do mal, são oportunidades de ver a luz de maneira nova,
ver de novo que tudo pode ter um recomeço mesmo sem saber como será.
A pergunta que certamente cruzava a
mente e o coração daqueles homens e mulheres era: O que faremos agora
depois que perdemos o Mestre?
Na medida em que a comunidade se une
para buscar uma saída, aparece Jesus, e o povo começa a entender que
Jesus devia ressuscitar dos mortos.
A experiência do ressuscitado não
acontece automaticamente. Não se torna algo compreensível de imediato.
Tudo será entendido na medida em que juntos buscam uma luz.
Mesmo sem a presença de todos, ali se
manifesta o Senhor, o Mestre, Aquele que sopra sobre Ele o Espírito da
vida, do entusiasmo, da alegria, dissipando o medo. “Não tenhais medo!
Sou eu que falo com vocês”. O sopro do Espírito abre a mente e o coração
e faz cantar : Aleluia o Senhor ressuscitou! Ele está vivo. Aleluia!
Desde aquela madrugada escura e fria, a notícia é sempre a mesma: “O
túmulo está vazio, só ficou o lençol dobrado. A vida venceu a morte! Eu
também vou vencer e contemplar o túmulo da minha vida, vazio das minhas
misérias, e recomeçar um caminho novo na direção do céu, da verdadeira
vida. Assim a Páscoa (passagem) não será um dia e sim um propósito de
vida.
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